Uma atualização sobre o tratamento da infecção por H. pylori
Cerca de 4,4 bilhões de indivíduos no mundo são infectados pela Helicobacter pylori (H. pylori), uma bactéria gram-negativa que pode causar gastrite, úlcera, câncer gástrico e linfoma do tecido linfoide.
As taxas de morbimortalidade associadas à infecção de H. pylori e câncer gástrico permanecem altas, principalmente pelo aumento da resistência antimicrobiana. Por isso, hoje trouxemos as atualizações mais recentes da literatura médica sobre o futuro do tratamento dessa infecção. Continue a leitura
Problemas com o tratamento padrão atual
O tratamento padrão utilizado para a eliminação da H. pylori consiste em uma terapia antibiótica quádrupla com bismuto ou terapia quádrupla concomitante sem bismuto por 10 a 14 dias. Apesar desse tratamento ser eficiente, ele apresenta algumas limitações.
A principal limitação é a resistência antimicrobiana que afeta consideravelmente a eficácia do tratamento. A H. pylori resistente à claritromicina já é considerada uma espécie de patógeno de alta prioridade, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em segundo lugar, como o tratamento envolve o uso de um número grande de antibióticos, por muitos dias, isso afeta a microbiota intestinal dos pacientes, a qual tem grande contribuição para a defesa e modulação imunológica e o metabolismo energético.
Como resultado, o tratamento leva a disbiose da microbiota intestinal dos indivíduos e é associado a doenças digestivas e alterações metabólicas.
Qual o futuro do tratamento para H. pylori?
Os novos tratamentos devem considerar os dois principais problemas discutidos anteriormente: a resistência antimicrobiana e a microbiota intestinal. Dessa forma, é preciso reduzir o consumo de antibióticos, mas, ainda assim, conseguir ser efetivo na erradicação da bactéria.
No futuro, a terapia dupla com o uso de inibidor da bomba de próton (IBP) com amoxicilina, parece ser o regime ideal. Essa terapia com alta dose e alta frequência, ou seja, amoxicilina (≥2,0 g/dia) e IBP (pelo menos duas vezes ao dia) por 14 dias, tem se mostrado altamente eficaz no tratamento da H.pylori.
A substituição de IBPs convencionais pelo vonoprazan nas terapias duplas também parece ser interessante pela maior rapidez no tratamento (e, portanto, menor impacto na microbiota intestinal). Estudos mostraram que a terapia dupla de vonoprazan (20 mg) e amoxicilina (750 mg), duas vezes ao dia durante 7 dias, teve eficácia de 85-93% na eliminação da H. pylori.
Um outro estudo demonstrou que a terapia dupla com vonoprazan (20 mg, 2 vezes ao dia) e amoxicilina (500 mg, 3 vezes ao dia), durante 7 dias, foi ainda mais efetiva na erradicação da H. pylori do que o trabalho anterior. De qualquer forma, os autores chamam atenção de que o tamanho corporal do paciente deve ser considerado na frequência e na dose de amoxicilina.
Em resumo, a terapia dupla parece ser de fato o tratamento mais simples e mais eficiente que considera os níveis de resistência antimicrobiana e a microbiota intestinal, porém, mais estudos ainda são necessários para torná-la um tratamento padrão.
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Fontes:
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